Festival começou amador e se tornou referência no Brasil ao completar 50 edições.
Um festival universitário
A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) foi criada em 06 de novembro de 1969. Quatro anos depois surgia o festival que se tornou palco da arte no município e que revelou artistas nacionais Brasil afora.
Naquela quarta-feira, 07 de novembro de 1973 começava o Festival Nacional de Teatro Amador de Ponta Grossa. O evento foi idealizado pelo ator e teatrólogo Telmo Faria, que trouxe atores de renome para incluir o festival no calendário nacional.
Ele era primo do reitor da Universidade à época, Álvaro Augusto da Cunha Rocha, e voltou a Ponta Grossa para fundar e dirigir o Grupo de Teatro Universitário da Instituição.
E foi durante a primeira edição do Fenata que o auditório da reitoria da Faculdade de Ciências e Letras de Ponta Grossa, hoje o grande auditório da UEPG Central, comemorou o reconhecimento da instituição pelo Conselho Federal de Educação. A partir daí, a UEPG se tornou de fato uma Universidade Pública brasileira.
Os grandes artistas
Em 49 anos, o festival foi realizado de forma ininterrupta com o envolvimento de gerações de artistas, técnicos, dramaturgos, produtores e iluminadores. Francisco Acildo de Souza, o Chiquinho, é parte da história.
Ele era responsável pela preparação dos palcos, montagem e desmontagem de cenários e praticamente toda a logística do festival. Os anos nos bastidores do Fenata permitiram que Chiquinho conhecesse diversos artistas que passaram pela cidade.
Já nos primeiros anos nomes consagrados subiram ao palco do Festival, como Paschoal Carlos Magno, criador do Teatro do Estudante Brasileiro; Henriette Morineau; Bibi Ferreira; Grande Otelo; Lucélia Santos; Ary Fontoura; Paulo Autran; Humberto Magnani; Rosamaria Murtinho; Luiz Fernando Guimarães; Tânia Bondezan; Odilon Wagner; Walmor Chagas e Denise Stoklos.
Ao longo dos anos, o Fenata também contribuiu na revelação de nomes como Ulysses Cruz, Cássia Kis, Jorge Fernando, Marcos Winter, João Falcão e Licurgo Spínola.
Fernando Durante
De início, o Festival acontecia somente dentro da Universidade. Os grupos de várias regiões brasileiras dormiam no alojamento da UEPG e faziam as refeições do restaurante universitário. Gilberto José Eleutério Zardo era professor de administração e chefiou a Diretoria de Assuntos Culturais de 1977 até 2002.
E foi em um grupo de teatro local que se destacou um jovem ator que viria a ser uma figura importante para o cenário cultural de Ponta Grossa. Fernando Durante passou a integrar o grupo ‘Mergulho no Nascimento’.
Ao longo da vida, Durante idealizou o Sexta às Seis, participou da criação e organização da München Fest e do Festival Universitário da Canção (FUC). No Fenata, ganhou prêmios de melhor ator em 1978 e de espetáculo infantil em 1981. Atuou ainda ainda como mestre de cerimônias em várias edições.
Fernando Durante participou de muitos eventos e colecionou amigos ao longo da história.
Censura
E em uma história de praticamente meio século, o Festival também passou por dificuldades. Entre elas, a ditadura militar. Durante as três primeiras edições, os artistas eram hospedados no 13° Batalhão de Infantaria Blindado de Ponta Grossa.
De acordo com a pesquisadora Emanuelly Foppa, a atitude era uma forma de controle de vigilância dos grupos teatrais. Na inscrição da peça era preciso incluir no máximo 12 pessoas e detalhar uma cópia do texto da peça, que seria montada juntamente com a equipe da Censura Federal, além da concessão de direitos autorais pela Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.
Nas décadas de 1970 e 1980, passaram por Ponta Grossa peças polêmicas como Cordélia Brasil de Antônio Bivar; À Flor da Pele de Consuelo de Castro; Quando as Máquinas Param de Plínio Marcos e Toda Nudez Será Castigada de Nelson Rodrigues.
Fenata fora dos muros
A partir de 2002, o Fenata ganhou novos palcos. A ação permitiu que o evento rompesse os muros universitários e passasse a ser da cidade de Ponta Grossa. Nesse período, o responsável pela reformulação foi o professor Cláudio Jorge Guimarães.
Em 2003, foi iniciada a Mostra de Rua, ocupando o espaço da Rua Coronel Cláudio, com as pessoas da comunidade sendo convidadas a parar e observar o que estava acontecendo. Diferentes grupos de teatro interagiam com as pessoas que passavam pelo calçadão.
A partir de 2006, o Fenata começou a ser realizado no espaço do Cine-Teatro Ópera, com o dobro da capacidade de público e totalmente revitalizado. Durante a pandemia, nos anos de 2020 e 2021, o evento aconteceu de forma on-line.
E nesta terça-feira volta aos palcos do Ópera e das praças para comemorar a edição de número 50. A abertura está prevista para às 20h.
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