Crianças negras usaram correntes de papel nos pulsos e tornozelos para retratar a escravidão.
O Ministério Público do Paraná instaurou um procedimento para apurar um desfile cívico em que crianças negras foram retratadas como escravos em Piraí do Sul, nos Campos Gerais. O evento foi realizado no último domingo (18) em comemoração ao Bicentenário da Independência do Brasil.
Durante o desfile, as crianças negras usaram correntes de papel nos pulsos e tornozelos para retratar a escravidão. Vídeos chegaram a ser compartilhados nas redes sociais oficiais da prefeitura, mas excluídos depois da repercussão negativa.
O desfile teve a participação de alunos das escolas municipais e estaduais, associações do município e autoridades políticas e religiosas. De acordo com a Promotoria de Justiça de Piraí do Sul, o procedimento foi instaurado nessa segunda-feira (19) após notícias veiculadas pela imprensa.
O Ministério Público vai apurar o caso e pedir esclarecimentos para o município. O processo é sigiloso porque envolve crianças.
Em nota, o município afirmou que o evento tinha o objetivo de resgatar valores como o civismo. Segundo a prefeitura, as escolas municipais têm autonomia para manifestações e que a apresentação de uma instituição contextualizou o período pré-colonial e colonial brasileiro, abordando momentos históricos.
A prefeitura disse que entende que em momento algum o ato ficou caracterizado como ofensa aos negros e nem desrespeito à dignidade humana. A gestão defendeu, ainda, que o desfile considerou o contexto e repudiou qualquer menção ao racismo ou outra forma de preconceito.
A Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed) não vai se manifestar porque as crianças são de escola municipal.
Defensoria Pública considera ato de "extrema gravidade"
A Defensoria Pública do Estado do Paraná também abriu um procedimento para apurar as circunstâncias do desfile cívico realizado em Piraí do Sul. O Núcleo da Cidadania e Direitos Humanos (NUCIDH) e o Núcleo da Infância e Juventude (NUDIJ) podem ajuizar uma ação civil pública contra os órgãos responsáveis pelo ato. Os núcleos vão cobrar explicações do município sobre o episódio.
Os coordenadores dos Núcleos classificaram o ato como de extrema gravidade. Eles destacam que a exposição das crianças no desfile é inadmissível porque pode causar um estigma grave.
A Defensoria Pública é a instituição responsável pela defesa e promoção dos direitos humanos e da democracia no estado, com orientação jurídica e defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos.
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