A pesquisa concluiu que ficou mais evidente o aumento de pessoas em situação de rua, além de filas de pessoas esperando por alimento em instituições de caridade.
Um relatório feito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa apontou que 76% das famílias atendidas pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da cidade estão em condição de extrema pobreza.
A pesquisa concluiu que a pandemia da Covid-19 trouxe mais fome para Ponta Grossa, já que 97% dessas famílias ficaram em situação de insegurança alimentar neste período. O relatório foi entregue à prefeitura na semana passada.
O estudo fez uma amostra de 302 famílias que representam uma população total de 5.305 famílias atendidas com o benefício eventual de auxílio alimentação de Ponta Grossa. O número de pessoas impactadas pode passar de 15 mil.
O nível de confiança é de 95% e a margem de erro de cinco pontos percentuais para mais ou para menos.
A pesquisa concluiu que a Covid-19 modificou o cotidiano de Ponta Grossa em diferentes aspectos sociais e ficou mais evidente o aumento de pessoas em situação de rua, além de filas de pessoas esperando por alimento em instituições de caridade.
O relatório também apontou a presença de crianças e famílias inteiras pedindo dinheiro ou comida nos semáforos da cidade.
Segundo a pesquisa, 87% das casas pesquisadas são chefiadas por mulheres. Isso é verificado com o aumento da chefia feminina em lares brasileiros. Em 2001, 26% dos domicílios eram chefiados por mulheres, em 2015 eram 42% e em 2020, o percentual subiu para 51%.
Conforme o relatório, 95% das casas chefiadas por mulheres estão em situação de pobreza. Quando os domicílios são chefiados por homens, o percentual cai para 85%.
Além disso, 78% dos lares chefiados por mulheres estão em extrema pobreza. No caso dos homens, o número é de 56%.
Outro dado apresentado no relatório é o desemprego das famílias atendidas pelos CRAS em Ponta Grossa. 59% dos responsáveis pelos domicílios estão sem trabalhar e em 65% das casas, pelo menos uma pessoa está desempregada.
Segundo a pesquisa, 61% das mulheres responsáveis pelos domicílios e que estão na condição de pobreza não tem emprego. Os pesquisadores afirmam que existe a formação de um círculo vicioso da baixa renda, com a geração de um processo cumulativo que tende a manter os mais frágeis socialmente neste estado.
Antes da pandemia, em 54% desses domicílios pelo menos uma pessoa estava desempregada. A partir de 2020, o número subiu para 65%. O relatório alerta que a pandemia teve um impacto maior na população mais pobre.
Pelo menos uma criança vive em 74% das casas pesquisadas. A pesquisa também concluiu que 1% dessas pessoas fazem a refeição na rua, por meio de doação ou pedidos em casas. Isso representa 123 pessoas em 53 domicílios. A totalidade desses lares é chefiado por mulheres.
Segundo o estudo, de todas as famílias que estão na insegurança alimentar em Ponta Grossa, mais da metade teve perdas de renda após o início da pandemia. Quanto mais grave a insegurança alimentar, maior foi o percentual de domicílios que perdeu renda.
O relatório de estudo ‘Fome e Pandemia: Um Estudo em Ponta Grossa’, foi elaborado pelo Grupo de Pesquisa Questão Ambiental, Gênero e Condição de Pobreza, pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG, em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Entre as propostas sugeridas pelo relatório estão o fomento ao Conselho de Segurança Alimentar de Ponta Grossa, a reativação do Programa Banco de Alimentos e a instalação e descentralização do Programa Restaurante Popular para atender regiões periféricas, com pessoas que não conseguem chegar ao centro da cidade.
Os pesquisadores também propõem a identificação das pessoas que estão em insegurança alimentar, a formulação de um programa de renda mínima e o estímulo a programas de geração de renda.
A prefeitura agora vai avaliar os dados apresentados. A gestão afirma que deve aproveitar as informações para melhorar o atendimento ao cidadão vulnerável socialmente.
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